Ele é tudo que um bom comercial não pode ser. Trata-se do vídeo da campanha Fiat Stilo BlackMotion, que recebeu o sugestivo título de "Sedução". Com uma boa produção, recheada de planos de detalhe e os mais diversos clichês - que figuram em praticamente todos os comerciais de automóvel - o filme mostra uma bela jovem trocando de parceiro, simplesmente, por não resistir ao "charme" do referido carro.
Claro, claro...vamos dizer que a peça retrata só uma piadinha...e que a intensão do filme é só vender o seu sofisticado produto - sofisticado sim, pois a locução é clara: "Quem gosta de carros, não vai resistir...Novo Fiat Stilo BlackMotion: para poucos e maus..."
Entretanto, comerciais de TV, por mais bem humorados que sejam - e existem bons exemplos de campanhas bem humoradas e eficientes - são produtos extremamente sérios, pois envolvem uma verba considerável, tanto de produção, quanto de veiculação e atingem, além de seu público-alvo, um contingente de milhões de pessoas. Por tudo isso e mais um pouco, uma campanha como esta não pode passar imune à críticas, principalmente por veicular uma mensagem tão irresponsável e preconceituosa.
Gosto de comerciais em que o produto é o personagem principal, o verdadeiro herói do filme. Pois aprendi que um bom filme publicitário é o que consegue transmitir valor agregado à marca - a qual passa a ter uma personalidade e uma identificação positiva com os mais diversos públicos - ou seja, ele tem que "seduzir" e isto, o filme "Sedução", não consegue fazer com eficiência.
Vejamos o personagem masculino, que faz o papel de "corno" no filme e simboliza todos os consumidores que não tem o BlackMotion - no caso dele, não tem jeito, precisa comprar o produto para manter sua parceira ao seu lado - mas há aí um problema: qual o motivo para andar com uma Maria Gasolina??
Mas o caso da personagem feminina é bem mais grave. Quando ela dá de ombros e sugere que o carro é irresistível, está trocando seus valores sentimentais pelos materiais, isto em uma época em que a própria crise dos mercados está levando muita gente a repensar os tais "materialismo e consumismo" desenfreados.
E há ainda um terceiro personagem que, estrategicamente, não aparece no filme: o motorista do BlackMotion. Ele está ali para representar o futuro consumidor do produto, ou seja, ele é você - já que o papel de corno quem tem que fazer são os outros - que, quando comprar o novo carro da Fiat, será um dos poucos...e...maus - É assim que você e sua Maria Gasolina vão viver felizes para sempre, ou até o próximo carro novo.
E pensar que a Fiat já lançou a corretíssima campanha do "Stilo: ou você tem, ou você não tem!" Mas agora com o BlackMotion, dá a impressão que o tal "estilo" ficou perdido no meio de tanta "sedução".
4 comentários:
Sabe o nome da musica da propaganda?
Caro Anônimo, tudo que sei da música é que o pessoal da produção de áudio se esforçou para seguir a referência de "I'm a man" da trilha de Rock n Rolla.
Ari, o que mais me surpreendeu nessa campanha foi ver pouquíssimas críticas como a sua - e a minha em http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/04/total-falta-de-estilo.html - indignados com o tema da campanha.
Você foi delicado ao chamar a moça de Maria Gasolina, depois de ela levar meros 12 segundos para trocar seu companheiro por outro que ela nem conhecia, só por causa do carro. Pior ainda é ver que há mulheres envolvidas entre cliente, agência e produção.
Realmente lamentável...
Atenciosamente, Rodolfo.
Começa de cedo esse tipo de propaganda. Como a do chocolate Baton, o muleque perde a namoradinha pro outro que tinha o chocolate, logo em seguida o garotinho compra um tabletão de Baton. O comercial termina com uma fila de meninas saindo da barraca dele, sugerindo uma orgia na barraca.
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