27.5.09
Lei obriga tradução de publicidade carioca
Esta poderia frequentar o FEBEAPÁ, Festival de Besteiras que Assola o País, criado pelo saudoso Stanislaw Ponte Preta, famoso jornalista dos anos 60/70. Pois vejam só, sem ter muito o que fazer, Roberto Monteiro, vereador do PC do B do Rio, criou uma lei que obriga a tradução, em letras do mesmo tamanho, de palavras estrangeiras que apareçam em qualquer peça publicitária veiculada na Cidade Maravilhosa.
A lei, já sancionada pelo prefeito Eduardo Jorge do PMDB, tem belas intenções: "preservar a cultura do país e facilitar a compreensão das propagandas por quem não conhece outros idiomas além do português".
Ai, minha Nossa Senhora das Comunicações!! Bendita sois vós!
Ó, Grande CEO, perdoai-os: Eles não sabem o que fazem!!!
Se soubessem, entenderiam que uma das maiores, senão a maior, obrigação de uma peça publicitária é ser entendida. O que o cliente e agência querem é atingir o target (nota da tradução: público alvo). E mais: com clareza e uma boa dose de persuasão. Quando isso não acontece, ou a agência muda o rumo ou o cliente muda de agência, simples assim.
E outra, o que eles querem dizer com "preservar a cultura do país"? Em primeiro lugar deveriam conceituar "cultura do país" (será isso possível??). Para mim, e também para muita gente mais qualificada, o conceito de "cultura do país" é tão amplo que cabem centenas, senão milhares, de palavra estrangeiras e até de tupi-guarani. Alguém lembra do Manifesto Antropofágico da Movimento Modernista de 22?? Para a turma de Oswald e Mário de Andrade, a cultura nossa de cada dia se alimenta (também) do estrangeiro, o ingere e o transforma, para termos uma arte autêntica e uma vida com mais brasilidade.
Por outro lado, a própria língua portuguesa, mesmo a falada em Portugal, incorporou e incorpora palavras estrangeiras a séculos - como todo idioma vivo. Palavras como abajur, garagem, toalete, garçom, chapéu, chefe, jaula, dama, manjar, assembleia - têm origem francesa. De origem espanhola temos fandango, pandeiro, quadrilha, ampulheta, trecho. Do inglês vêm lanche, bar, bife, clube, teste e outras mais. E do árabe? Outras tantas. E do africano? Muitas mais.
O mais agravante nesta história é a obrigação legal para algo que deveria ser decidido, exclusivamente, entre a agência e o cliente - como passa a ser "obrigatório" - temos aí o germe indigesto da censura se formando. E censura é muito ruim, é péssimo e até pode matar o futuro da "cultura de nosso país".
Nota 1:
Ainda não entendo como nossas entidades: de publicidade, de clientes ou de outras áreas afinadas com o conceito de liberdade, deixaram a lei ser aprovada tão facilmente. A pista talvez esteja com o presidente do Clube de Criação do Rio de Janeiro, Flávio Medeiros, para ele a lei é conservadora - mas não vai deixar as peças publicitárias menos criativas. Ledo engano de nossa classe, a lei não é apenas conservadora! O que realmente ela é? Censurável.
Nota 2:
Já deve ter muito político por aí pensando em aplicar lei semelhante em seus municípios - atualmente virou moda castrar a atividade publicitária - culpa da imobilização de nossa própria classe.
Nota 3:
Palavras como "off", "sale", "delivery", quando utilizadas, deverão ser seguidas com as traduções: "desconto", "liquidação", "entregas em domicílio". Beleza, não é? E como ficam "mouse", "web", "lap top", entre outras?? Ai Minha Nossa Senhora das Comunicações, rogai por nós e pelos nosso colegas cariocas. It's Fuck! (NT: Tamu Ferrado!)
11.5.09
Publicidade com Responsabilidade
O ano era 1973, tempo distante do "politicamente correto", dos comercias recheados de efeitos especiais e da internet. Entretanto, a Seagrams, fabricante do whisky Royal Label, decidiu veicular um filme memorável e bastante corajoso - até mesmo para os nossos dias. Em slow motion, ou "em câmera lenta" como se dizia na época, retratou a dura realidade que os excessos do álcool podem causar. Sob o olhar fixo de uma criança e do choro que se transforma em sorriso, somos levados a compreender a importância de beber com responsabilidade.
O estranho é que nos dias de hoje, época de grandes verbas publicitárias, dos comerciais que terminam com mensagens do Ministério da Saúde e das práticas de "responsabilidade social", não vemos mais filmes assim. Será que já não está na hora dos fabricantes de bebidas - e de outros segmentos - assumirem um pouco da responsabilidade sobre o impacto negativo que causam à sociedade? Ou, realmente, estamos na era onde o mais importante é vender, não importa como??
A Seagrams, com este antigo comercial, prova que o mundo pode sim, ser bem diferente do cinismo que parece governar os nossos dias, e que a publicidade tem um papel importante para a construção de uma sociedade melhor.